“Aceitar” em vez de “Impor”

A globalização tem sido um tema abordado aqui já por várias e várias vezes. Mas a verdade é que a globalização é uma tema cujas consequências desse efeito são inúmeras e, como tal, dá conteúdo para várias reflexões.

A globalização criou a chamada “aldeia global”, trazendo uma certa uniformização de culturas, hábitos, ideologias, que até hoje, nunca tinha existido tão intensivamente. Não estou com isto a dizer que não continuam a haver diferenças, continuam, e muitas. No entanto, o mundo, segundo a premissa de Amin Maalouf em “Um mundo sem regras”, embarcou neste século sem uma bússola.

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E a bússola aqui pode ser a solução para um mundo harmonioso. No fundo a bússola é o instrumento que nos devia guiar o pensamento, é a nossa guia para evitarmos ver a globalização como uma uniformização, invés de olharmos para a globalização como a criação de uma nação de muitas culturas.

O problema é que o homem quando tem poder tende a fazer com que tudo à sua volta lhe obedeça ou se torne igual a sim, em vez de usar o poder de forma a proporcionar um crescimento equilibrado para si e para todo o envolvimento, respeitando crenças e interesses individuais. E o autor aborda de certa forma este tópico falando bastante dos Estados Unidos e o facto de ser uma super potência mundial. O facto de decisões de Bush ou Obama afetarem o mundo inteiro. Mas o autor não se apresenta como opositor à existência de uma super potência mundial, inclusive ele afirma que se essa super potência “atuar no cenário internacional com subtileza e justiça, se se obrigar a consultar outras nações respeitosamente em vez de entregar ditaduras, se estabelece como ponto de honra cumprir primeiro o que exige aos restantes, se se distingue claramente de práticas imorais que muitas vezes mancharam o seu registo em todo o mundo, e se liderar a mobilização global contra a crise econômica, o aquecimento global, as epidemias, a doença endêmica, a pobreza, a injustiça e a discriminação, então o seu papel como super potência será aceite e aplaudido”.

Esta questão da pressão de costumes, hábitos, cultura, sempre foi algo muito presente. O próprio autor fala em grande parte da sua obra sobre como o Ocidente teve uma grande influência no mundo inteiro, inclusive fala do facto da história oriental, nomeadamente árabe, está recheada de referências do Ocidente. Isto é, grande parte da história muçulmana tem intromissões do Ocidente, e isso realmente pode causar algum descontentamento por parte destes povos. De tal forma que o autor dá o exemplo de Nasser, ditador egípcio que o povo durante tempos o adorou por sentir que estavam a recuperar a sua dignidade.

A linha que separa a ajuda e colaboração por parte de uma nação a outra, com a vontade de conquista ou de sobreposição cultural, sempre foi muito ténue, e quando se passa um pouco da primeira para a outra as coisas começam a ir por caminhos que só dão origem a males piores.

E os atos falam mais alto que as palavras. Os atos de terrorismo são no fundo formas de expressão de descontentamento. São atos, na minha perspetiva, cobardes e deploráveis, mas que no fundo transmitem uma mensagem.

Portanto a chave, como já foi referido, é realmente olharmos para a globalização como uma oportunidade de estudarmos, compreendermos e aceitarmos as diferenças culturais invés de forçarmos uma uniformização que prevalece determinada cultura.

Este sempre foi o problema do homem, e ainda hoje o continua a ser. A eleição de Trump retrata um pouco este problema. Um homem que não respeita valores culturais diferentes dos dele, e que agora está à frente de uma das maiores potências mundiais.

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Ainda assim vivo numa esperança e otimismo que, embora possa ser ingénuo, faz-me olhar para a minha volta e ver cada vez mais iniciativas que vão aparecendo de inclusão social e respeito cultural, de cada vez mais empresas com sensibilidade para este tema. E acima de tudo, acredito viver numa geração de jovens que antes de verem diferenças na cor de pele, na raça, nos costumes ou nas crenças, veem um ser humano igual a si mesmo.

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